° Aviso aos caros leitores

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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

40. Memórias da Esquina

Travessa mineira,
De homens além,
Em feira moderna,
Que trazes também.

Amigos da esquina,
Um clube surgiu,
Falando de um povo,
Que não se caiu.

O branco, o negro,
E outros a mais,
Memórias erguidas,
Em contos reais.

Por isso lhe trago,
Um sonho ou mais,
Lembranças que partem,
De Minas Gerais.

(Altieres Fonseca)

Por Altieres Fonseca (27/02/2013)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

39. Memórias Póstumas de um ano cinzento

É o Brasil ao vivo aí na sua casa“. Assim, naquele 1 de setembro, Cid Moreira encerrava a primeira exibição do Jornal Nacional, três dias depois, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick é sequestrado por membros do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), e da Ação Libertadora Nacional (ALN). Desde já, ações ou feitos eram maquiadamente retratados por meio das tímidas e opacas cores preta e branca emitidas pelos poucos televisores espalhados em lares brasileiros. Esta era a pátria amada, isto era 1969.

Em 18 de setembro, o governo, que em momento era formado por uma junta militar substituindo o então presidente Marechal Artur da Costa e Silva, afastado por enfermidade e que meses depois viria falecer, decreta a Lei de Segurança Nacional, que tinha como razão, o exílio e a pena de morte em casos de guerra revolucionária, psicológica adversa ou subversiva. As condições democráticas e os direitos cívicos encontravam-se cada vez mais restritos e limitados aos deveres impostos, prova disso, no dia 17 de outubro é promulgada a Emenda Constitucional n°01, ou comumente chamada de Constituição de 69, que reformava a Constituição de 1967, tornando-se agora favorável aos princípios militares, juntamente com outros 12 Atos Institucionais estatuídos somente nestes 12 meses.

O ano não acabava por aí, no dia 30 de outubro o país conhecia o seu 28º presidente, tomava posse o linha dura Emílio Garrastazu Médici. Em 4 de novembro, o líder da ALN Carlos Marighella é assinado por tiros de metralhadora por integrantes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), 15 dias depois Pelé marca seu memorável gol de número 1000, onde em pleno estádio do Maracanã o Santos derrotava o Vasco da Gama por 2 gols contra 1. Ainda poderia-se relatar muitos outros acontecimentos deste inesquecível ano, mas como diria a canção vencedora do V Festival de Música Popular Brasileira:

- Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas.” (Sinal Fechado – Paulinho da Viola)

Por Altieres Fonseca (21/10/2012)

domingo, 15 de abril de 2012

38. Pra não dizer que não falei do Tempo


Pés descalços,
Folhas ao chão,
Passado e presente,
De sonhos que vão.

Dos tempos que tive,
Do céu que verei,
Silêncio vazio,
Amargo não sei.

Palavras perdidas,
Inverno sem fim,
Muralhas erguidas,
Conflitos em mim.

E ainda que falhe,
Os passos que dei,
Dos tempos perdidos,
Que aqui enterrei.

(Altieres Fonseca)

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. (Eclesiastes 3:1)

Por Altieres Fonseca (24/03/2012)

terça-feira, 6 de março de 2012

37. Quando a sorte te solta um cisne na noite – Parte 2

O verdadeiro heroísmo está em transformar os desejos em realidades, e as ideias em feitos. ” (Alfonso Rodríguez Castelao)

Entre os anos de 1978 e 1979, Marco Antônio Araújo se estende ao trabalho independente, e logo no início da década de 1980, ao lado do grupo Mantra, lança seu primeiro trabalho solo, nomeado de “Influências”. O disco trazia consigo uma diferenciada e marcante sonoridade , baseada na junção do rock progressivo, o popular, o erudito e a música de Minas Gerais, características essas que seriam prevalecidas em todo decorrer sua carreira.

Após boa recepção de sua obra inicial, e já em 1982, chegava então as lojas o seu segundo disco, o excelente “Quando a sorte te solta um cisne na noite”, aqui o artista mostrava toda sua capacidade criativa, acrescentado de fabulosos arranjos de guitarras, violões, flautas e violoncelo, que transitavam entre o barroco mineiro até às folclóricas canções de roda, podendo aqui destacar a empolgante “Alegria”, a surpreendente “Pop Music”, a dramática “Floydiana” e a fascinante “Quando a sorte te solta um cisne na noite”.

O Trabalho não parava e em 1983, com uma outra equipe de músicos, lança seu 3° LP, o sofisticado erudito “Entre um silêncio e outro”. Agora em 1984, e novamente com a presença dos amigos do grupo Mantra, é chegada a hora de “Lucas”, sua última obra fonográfica, um registro predominantemente voltado ao violão, sendo necessário lembrar canções como “Lembranças”, “Caipira” e “Para Jimmy Page”, uma homenagem ao importante músico inglês James Patrick Page, guitarrista do Led Zeppelin.

É chegado o ano de 1986, e com ele uma triste notícia, após 5 dias internado na UTI de Belo Horizonte, Marco Antônio Araújo falece em decorrência de um aneurisma cerebral. Era o precoce fim de uma promissora carreira, porém, jamais esqueceremos de seu precioso valor, um homem que amava o que fazia, com brilhantismo e perseverança, em desejos, ideais e determinação.

Por Altieres Fonseca (06/03/2012)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

36. Quando a sorte te solta um cisne na noite – Parte 1


Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida,
Estes são os imprescindíveis. “ (Bertold Brecht)

Belo Horizonte, 28 de agosto de 1949, nascia em berço mineiro outro celebre filho destas minas diamantes, um inovador musical, um transcendente virtuose, ou como preferir, Marco Antônio Araújo. Violonista, guitarrista, compositor, arranjador e outras proezas a mais, virtudes brotadas sobre a essência deste incomparável gênio da música, marcado principalmente por sua singular forma de fazer e realizar aquilo que mais amava, a arte.

Influenciado primordialmente pelos Beatles, Marco Antônio Araújo, inciou sua carreira musical em idos de 1968, onde em momento juntou-se ao grupo Vox Populi, que também contara com os músicos Tavito e Fredera, lançaram pela gravadora Bemol, um único e raro compacto, com a parceria de Zé Rodrix, nomeado então de Pai-son. Já em início dos anos 70, mudou-se para a Inglaterra, onde lá aprofundou-se em conhecimento pelas transformações que nestes cantos aconteciam, foi então que passou bom tempo, escutando e observando grupos como Deep Purple, Led Zeppelin, Pink Floyd e os novatos do Genesis e Supertramp.

Tempos após, regressa ao Brasil, e agora com uma profunda bagagem de novas influências, ingressa na escola de música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, alimentando neste instante sua outra ardorosa paixão, a música erudita. formando-se em composição, violão e violoncelo neste recinto, e já em 77 retornando à sua Belo Horizonte, adentra então a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, sobre o cargo de violoncelista.

Por Altieres Fonseca (02/01/2012)

domingo, 13 de novembro de 2011

35. Recordando o Som Imaginário – Ato IV. “ A ascensão progressiva”


Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma"
(Antoine Laurent de Lavoisier)

1973, muitos ventos já haviam soprados em meio aos caminhos da música moderna, uma nova revolução espalhava sobre as divisas ocidentais do continente europeu, Itália, Alemanha e Inglaterra lideravam os avanços desta nova manifestação artística, era o período áureo do Rock Progressivo, grupos como “Premiata Forneria Marconi”, “CAN”, “Emerson, Lake and Palmer” e infinitos outros, desbravavam as fronteiras desta vertente musical.

Com o passar das águas, a revolução estendia o seu majestoso império, cruzando o Atlântico a influência embarcava sobre as terras brasileiras. A grandeza deste novo feito transformou a sonoridade de muitos adeptos ao Rock Progressivo, estava assim iniciada mais um capítulo da música no Brasil, agora escrita por inúmeras bandas, tais como “A Casa das Máquinas”, “A Bolha”, “O Terço”, “Os Mutantes” e não menos óbvio, o Som Imaginário.

Após o lançamento de dois discos voltados ao rock psicodélico, agora o Som Imaginário estava sobre a divina inspiração de Wagner Tiso, o entrosamento entre estes encontrava-se em plena ascensão cósmica, e por meio desta química surgia aquela que é considerada sua obra maior, o profundo álbum “ A Matança do Porco”.

Lançado ainda em 73, tal realização tornou-se o último registro de sua deslumbrante e curta carreira. Gravado também nos estúdios EMI – Odeon, o disco trouce uma verdadeira viagem instrumental, acompanhado de primorosos arranjos orquestrais, iniciando-se pela magistral (Armina), com um lindo e caprichado trabalho de guitarra. É preciso destacar também a utópica (A Matança do Porco), um genuíno tesouro da música universal, trazendo aqui a sagrada voz de Milton Nascimento, junto a um espetacular coral enviado de terras celestes.

Tempos depois, apesar dos músicos estarem sempre trabalhando em conjunto, o nome Som Imaginário foi guardado nas páginas da história, e eternizado na memória cultural deste imenso país. Vale também lembrar, daqueles que proporcionaram a compartilha de seus dons para engrandecimento desta incrível epopeia, podendo citar os importantes Naná Vasconcelos, Nivaldo Hornelas, Toninho Horta, Novelli, Paulinho Braga, Jamil Joanes e outro saudoso filho destas Minas Gerais, Marco Antônio Araújo.

Por Altieres Fonseca (13/11/2011)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

34. Recordando o Som Imaginário – Ato III. “ O ensaio da nova estrela ”

Nascia os anos 70, o Som Imaginário já pertencia ao primeiro escalão da música brasileira, sua notável importância dava-se primordialmente pela contribuição aos emergentes músicos da época, podendo destacar Marcos Valle, Taiguara e o MPB-4. Neste mesmo período, várias mudanças foram constantes em sua trajetória, como a saída de Zé Rodrix, que juntava-se aos trova-dores Luíz Carlos Sá e Guttemberg Guarabyra, para formar o inesquecível trio do rock rural Sá, Rodrix & Guarabyra.  

Outro fator importante, que diferenciou ainda mais a existência deste conjunto, foram as apresentações “ao vivo”, sendo estas executadas tanto em espetáculos abertos, nos teatros e festivais, ou até mesmo fechadas, como em específicos programas de televisão. Uma destas apresentações tornaria-se antológica, falo do programa “Ensaio”, exibido desde 1970 pela Tv Cultura, apresentando em seu contexto uma junção de shows e entrevistas, nesta ocasião, a cantora Gal Costa vinha acompanhada pela genialidade destes músicos de versátil transformação.

Com o passar do tempo, já em 1971, e sem a presença de Zé Rodrix, chegava às lojas o seu segundo disco, que assim como a obra anterior, transitou entre a fina mistura da música brasileira e o rock psicodélico. Chamado apenas de Som Imaginário, ou também lembrado como “A nova estrela”, este trabalho destacou a criatividade elétrica de Fredera, onde além de guiar belas bases e solos de guitarra, ainda entregou-se em voz e poesia ao intermédio de suas fervorosas letras de protesto.

Por Altieres Fonseca (18/10/2011)

domingo, 2 de outubro de 2011

33. Recordando o Som Imaginário – Ato II. “ A força da imaginação ”


- E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.” (Friedrich Wilhelm Nietzsche)

Visual despojado, calças à boca de sino, cabelos cumpridos, guitarras distorcidas e principalmente, sem a menor pretensão comercial, essa era a fórmula mágica do Som Imaginário, um grupo que por meio da imagem, música e poesia, representou de forma precisa, o retrato cultural de uma geração marcada pelo caos político e social de sua época.

A primeira decolagem do grupo, surgiu em decorrência da parceria com Milton Nascimento, que juntos lançaram o brilhante disco “Milton” de 1970, mas a sua singular estética sonora, só veio despertar com a gravação de sua primogênita obra fonográfica, o “Som Imaginário”. Lançado neste mesmo ano, o disco de estreia tornou-se um marco, um dos maiores registros da música psicodélica gravada no Brasil.

Concebido nos estúdios “EMI – Odeon”, o experimentalismo exercido em suas composições trouce ao público brasileiro um som ambientado em inovações, dotado de densos climas e marcantes viagens, citando como exemplo as canções (Morse, Super-God, Pantera e a delirante Nepal), o lado hippie entregava suas flores astrais na doce balada-folk (Sábado), também não podemos esquecer da influência beatle encontrada na delicada (Poison), e do toque progressivo da mineira (Tema dos deuses), esta guiada pela sagrada voz de Bituca. Talvez, o ponto alto deste registro, seja a destacável versão para (Feira Moderna), música de Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant. Completavam ainda as marcantes (Hey Man e a crítica Make Believe Waltz).

Por Altieres Fonseca (02/10/2011)